terça-feira, 22 de novembro de 2011

Putas e Santas.


 Chegou a hora de soltar a gata. Ser a  dona da rédea. Pulso firme. Segura e sensível mulher.
 Como minhas próximas personagens no cinema  serão mulheres de atitude, venho atualizar com  as fotos que fiz no estúdio dos meninos do Cria da Casa.  http://www.criadacasa.org/ Onde me senti muito a vontade para abusar.


 A arte e seus artifícios. E de peito aberto!
 De mim nascem santas, putas, mães e filhas. De mim elas tem o corpo, sentimento e a vida. E a cada hora que me permito vive-las, mais percebo as diversas formas de existencia, torturas e prazeres individuais.
Cada escolha da vida faz voce construir sua história. Suas experiencias! Viva.
Atriz em construção de personagem. ou desconstrução, aliás, que assim seja.


Produção: Fernanda Sainz
Cabelo e make: Ronaldo Alonso http://www.ronaldoalonso.com.br/
Fotos: Pedro Curi
Estudio: http://www.criadacasa.org/

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

" Nós seremos tão evoluidos que a guerra nao vai durar 15 segundos!"

Em dia histórico, nossa peça foi vivida no CCBB!

 SATISFAÇÃO!!!
Eduardo Rios, Lazuli, Karina, Fabiana, Ariane, Carol, Anita e Maria Ana Caixe.
Nós tivemos essa honra e prazer. Parabéns e obrigada!

 Carol, ter voce dividindo camarim é ter ao lado alguém cativante, que faz questão de ser amiga e de fortalecer. Obrigada!!!!!! Andrezza é uma das melhores pessoas pra se dividir o tempo! Lindas, obrigada!
                               
Um beijo da sua vaca , ganhando um beijo do seu bizerrinho!!!!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Dia dos mortos, vivos!

POEMA DE FINADOS (MANUEL BANDEIRA)


Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai. 

Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão. 

O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.

Na minha primeira apresentação na aula do Jablonski.
Fiz essa gravação de quando recitei esses poemas, um seguido do outro.
http://www.youtube.com/watch?v=2jxTdAN0ZuQ
POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL



JOÃO GOSTOSO era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Acima, vídeo da minha primeira apresentação na aula de Bernardo Jablonski Abril 2010.Uma seguida da outra.

Aqui abaixo só agradecimentos!


Dudu, Ranata, Pablo e Viviana.


Isabela e Luciana.


Pelotão

companheiros amigos espectadores.

Obrigada !!!


Meu irmão.
Meus pais, obrigada!
Ao meu filho pela compreensão!

Ao meu mestre pelo carinho e afeto !
obrigada pelo abraço sincero.
Muito agradecida

sábado, 29 de outubro de 2011

BRAVO!

Com a lua sorrindo no céu, inspirada  por esse dia lindo que nasceu hoje venho escrever minhas palavras em homenagem a um grande homem que eu tive o prazer de conhecer.
Bernardo Jablonski foi o responsável pelos meus primeiros passos no palco do Tablado, e quem movimentou o coração de tanta gente nesses últimos dois dias em que comemoramos o aniversário do Tablado de 60 anos e comemoramos, enfim sua curta e tão preciosa passagem pela terra nessa mesma data.

Ao completar 50 anos de Tablado, Maria Clara Machado, sua fundadora, elevou-se ao mundo das almas. E ontem ao completar 60 anos, ela levou para perto de si seu melhor presente, nosso mestre, aos 59 anos, Jabs. Esse sorriso da lua pra mim é o símbolo da felicidade que está o céu com a sua chegada. Nós aqui, lamentamos a saudade que sentiremos, a falta! Mas sentimos amor e gratidão eternos!

O Bravo Soldado Schweik foi a montagem do ano do Tablado, e apresentamos em fevereiro de 2011. Eu fui apresentada ao Bernardo no fim de 2010  e no início do ano fui até a escola e agarrei minha vaga! QUE SORTE A MINHA! Passou um ano com a gente e a cada segunda-feira era um prazer estar a caminho do nosso encontro, porque eu aprendi que lá era um momento sagrado, recitávamos poesias de poetas brasileiros e contávamos histórias pessoais, era incrível. A presença de Dani Ocampo e Fernando Caruso ainda aumentavam esse prazer.  Um outro exercício era cantar, esse eu não fiz... deveria. Não deu tempo porque começamos os ensaios, e foi tudo tão rápido e delicioso. Fora os jogos de improvisação que eram sempre muito divertidos!

Ele dirigiu com maestria essa história, e montou como um quebra cabeças muito bem humorado essa obra de arte.
Obrigada mestre por todo seu carinho.
Muito agradecida à Zeli por toda dedicação!

Oportunidade de dividir um personagem tão legal com a  minha amiga Isabela Lima, prazer! 

Soldados!
Dona Dipirona, Schweik e Sargento Cataflan.

Desertores.
Queria colocar foto de todas as cenas... mas ta ficando muito tarde e eu preciso descansar para amanhã!
                               cachorrinha mais fofinha que eu ja vi, e a gaúcha que encontrei na guarda!


Sargento e Guarda Benadril.
Camponesa feliz

"Passando as colinas onde as vacas vão pastando,
 fica a terra que eu chamei de lar
e que eu nunca esqueço o nome.
Na Boêmia e na Sérvia
Somos filhos da mãe e da dor
Austro-ungaros até o sol raiar
manda o nosso imperador.
ó grande patria , teu chamar eu sempre hei de responder
matar e roubar e estuprar
é o nosso dever
sangue tripas, coração
 adubam o meu jardim
 o terra de guerra e emoção és minha até o fim"
Com essa expressão de criança feliz, eu te convido à contemplar com a gente a honra de ter vivido tudo isso, ao lado do mestre,  assistindo O Bravo Soldado Schweik,  no domingo, dia 30 de Outubro, às 19:30h no CCBB, na Mostra estudantil 2011, representando O tablado 60 anos!

"O bravo soldado Schweik (Tablado). Texto de J. Hasek. Adaptação e direção de Bernardo Jablonski Uma sátira aos horrores da Primeira Guerra Mundial. Schweik é um herói sem caráter, um homem errado no lugar certo. De extrema sinceridade, suas sentenças se transformam num maravilhoso jogo do contrário. Depois de ser preso e torturado por sua própria tropa, se perder do batalhão e ser confundido com um espião russo, Schweik, enfim, parte para o front, onde profetiza o fim das guerras até a explosão total. Duração: 1h20."  Jornal do Brasil 

MERDA!!!

E nesse vídeo que eu gravei, um pouco da emoção do nosso diretor, amigo, companheiro Jabs, no dia em que nos encontramos após as apresentações.  As palavras do Eduardo Rios, protagonista, e da Vivi, nossa assistente de direção,  me servem completamente.
Obrigada mestre, por um dos melhores dias de minha vida!!!
Esse é o fim de semana em sua homenagem.
Homenagem à sua partida para um plano superior, que é onde voce merece estar! Alma pura e verdadeira, sublime. Te amamos!

http://www.youtube.com/watch?v=AScX-4x7F0U


humildemente, com muito carinho, e toda a emoção nossas sinceras  e desajeitadas palavras!
Anita e todos do elenco, obrigada!
http://www.youtube.com/watch?v=AGiFWXVoXMk

 Quando ele dizia que me achava linda, eu respondia ..." VOCE QUE É MARAVILHOSO"!!!
Muitas palmas!!!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

jabs amo te! abs!

Devo refletir sobre isso, porque foi impossível passar imperceptível aos meus olhos, essa visão.
Ao conviver, ver o caminho de cada um, analiso que o bom dessa vida
é amar, viver, sorrir e desfrutar do mais belo
o que nos importuna, deve ser aniquilado.
felicidade!!!
o cansaso e lamento são rejeitáveis.
Essas doenças que permeiam nossa saúde são indígnas de nossas atenções: morram!
hoje a fé move corações para pedirem forças para isso
queremos a saúde, o bem,  a fraternidade!
Forças ao mestre, parabéns aos discípulos!
luta! Somos tudo uno.
Amor ao próximo e plenitude são nossas virtudes.


 Meu querido mestre do humor Bernardo Jablonski  e Eduardo Rios, ator maravilhoso em processo de ensaio para o espetáculo O bravo soldado Schweik à se apresentar dia 30 de Outrubro no CCBB .

Pessoa mais incrível que eu conheci nos últimos tempos no meio teatral. Homem sensível, diretor dedicado e amigo. Voltar a ensaiar esse espetáculo que foi montado com tanto carinho e dedicação por esse querido homem tem sido uma honra! Grande luz emano em sua direção meu ídolo, em agradecimento a tantos momentos maravilhosos e quanta realização de sonhos voce nos proporcona com sua, nossa arte.
 obrigada!

Momento como esse só quem faz sabe! Essa magia do palco, do tablado e dos seus artistas!
" Eu seguro minha mão na sua, para que possamos juntos, fazer o que não se pode fazer sozinho"  TEATRO!
MERDA!!!

obrigada Renata, Obrigada Vivi e Caruso! Obrigada amigos de elenco maravilhosos!
Paz!


O bravo soldado Schweik . Dia 30 de Outubro às 19hrs No CCBB.
Voce está convidado à se divertir!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Mulher-cachorra

Mulher-Cachorra

Como gosto de ti
Mulher-cachorra
Quando balança o pelo molhado
Me encharcando e rindo
Me seduzindo com seu bem-olhado
Quando, com sua lealdade
Protege, avançando contra quem
Não percebi a maldade
E com sua gentileza,
Sem interesse, sem preço,
Só apreço,
Que me apresso em preservar,
Insiste em se desnudar.
E com seu olhar,
Quase pedinte,
Humilde, afável, dócil,
A me embriagar,
Mas sem se violentar,
Já que até pra mim,
Sabe rosnar.
Mulher-cachorra,
Tão amiga, tão doce, tão decente,
Assim acaba me tornando gente.

Por Cezar Conde
 http://www.cezarconde.blogspot.com/

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O bravo soldado ainda vive!!!

Venho por meio deste informar que " O Bravo Soldado Schweik" foi escolhido para representar  O Tablado na Mostra entre escolas do CCBB!

A apresentação será dia 30 de Outubro.

A montagem dessa comédia foi feita com muito carinho e nos apresentamos em Fevereiro no Tablado, e agora vamos nos reencontrar para realizar essa delicia de apresentação.
Direção e adaptação de Bernardo Jablonski e assitência de Fernando Caruso, Renata Amaral e Viviana Rocha, elenco maravilhoso e diversão garantida.


Tivemos a oportunidade de apresentar com dois elencos, e vou colocar as fotos para matar saudades do elenco que não vai estar no CCBB, mas  como foi uma experiência única, com Matheus de Souza protagonizando, vale o registro.

Hilário, Matheus Souza e Luz Ribeiro
Os soldados temiam a guerra e a evitavam simulando impossibilidades na enfermaria. A médica "cuidava direitinho" deles para que eles ficassem curados e tivessem capacidade de defender o imperador.

 Dra Funchicórea, e seus doentinhos! Satisfação a minha atuar ali ao lado do impagavel  Marcio Lima, e os outros meninos, que arrebentaram!  E aqui em baixo com Anita Chaves, Amoxilina!


 Vale o registro dessa apresentação que tivemos, uma complementando a outra.
 Poder construir um personagem e dividi-lo com outro ator, complementa e só acrescenta.

Guarda Benadril, muito bem dividido com Andrezza Abreu!

Nos ensaios o mestre dirige do seu jeito tão educado e cordeal!  Pessoa especial, mestre iluminado, que domina o palco e direciona seus atores com a  maior perfeição, zelo e carinho! Eu amo Jabs!




Foto de coxia, sempre lembrando que teatro todo mundo se completa!





No CCBB, Eduardo Rios viverá Schweik, esse soldado Tcheco bem desastrado, piadista que foi escalado para ir ao fronte de batalha e mesmo com suas aventuras e comunicação truncada  permanece no exército e assim podemos de forma bem extrovertida comentar da potência da guerra e a tolerancia que há nessas situações e o caminho desse soldado que ainda acaba sendo confundido com um Russo! A guerra mundial e seus guerrilheiros que nem sabem porque estão no fronte de batalha ou sabem, mas nesse caso ele é tão sem noção que vai até o final inconsequente com seus atos.
Eu brinco com o Guarda Benadril, uma mulher-macho bem cheia de ações fisicas, e revendo o video me fez perceber quanto é dificil atuar com poucas falas! Ja a maligna dra Funchicória é muito bem intepretada pela minha amiga Isabela Lima.
Quando tiver mais próximo da apresentação faço uma mensagem convidando, e com fotos do elenco que vai se apresentar para divulgar a nossa história.

 E VOCE VAI ASSISTIR!

domingo, 11 de setembro de 2011

laboratório



É com muito orgulho que vou para o meu encontro com o elenco do novo filme  'Gonzaga de Pai para Filho', produzido pela Conspiração Filmes e dirigido por Breno Silveira (Dois Filhos de Francisco).
Sobre a vida e obra de Luiz Gonzaga, nosso mestre do Baião e Pé de serra. Laboratório no Centro de Tradições Nordestinas ( Feira dos Paraíbas em São Cristóvão- RJ) para aproximação e  criação desses personagens do sertão nordestino e facilitar a direção na escolha dos atores para determinados personagens, inclusive o próprio Lua.
Viva o Cinema Nacional. Viva a oportunidade do ator de criar vivência, memória e verdade dos personagens para o cinema! A oportunidade de outrar-se!  Viva o trabalho de Sérgio Penna!!!!
É muita satisfação estar nesse processo!!!
E viva a CULTURA NACIONAL!!!!

sábado, 27 de agosto de 2011

Inspirações passageiras

Imagina que voce está de frente pro mar,
a água vem e te chama lambendo seus pés.
Vai sutilmente sentindo o gelado no seu corpo
aos poucos se forma uma onda que voce mergulha...
sente o estar dentro do ventre materno do universo, o renascimento.
Vem a onda, forma grande rapida forte, avassaladora,
mergulho tão suave mas a força consegue carregar
o circuito da agua faz girar, e girar...
até o ponto de tanto sufocar
a  ultima força para tentar escapar,
sobe ,
respira,
la vem outra na sequencia. quase morre.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

construindo

Diário de Bordo - 39º capítulo por Lazuli Galvão, atriz.
Rio de Janeiro - julho 2011



Esperei a chegada do momento em que eu realmente sentisse que aqui estava de novo, em mim, plena dos meus
motivos para sorrir e chorar, depois do processo de criar um personagem, de ser conquistado por ele, observar as diversas formas em que a vida pode se perdurar durante a existência. Aqui chegou o momento em que meus dedos soam sobre o teclado ao tentar verbalizar a proporção do trabalho do ator, dessa conquista que alguns sentem necessidade de desenvolver.


Duas semanas entre o mês de Junho e Julho de 2011, na companhia do sábio, experiente e sensível humano,
Sergio Penna, já tão solicitado e reconhecido pelos artistas que tem a decisão de aprofundar o estudo e composição do personagem. Sim, privilegiados somos nós que temos a oportunidade exercitar ao lado dele, e ouvindo relatos preciosos e íntimos, do processo de outros artistas que vem valorizando o cinema nacional em uma década. No meu entender, estamos cada dia mais evoluindo em produção, investimento e estudo profundo, com todo clamor às oportunidades da vida para que a arte continue a se propagar, as novas mensagens, os espelhos que refletem
na sociedade onde o caminho só pode ser a evolução.
Quanto a isso tenho a relatar que exercitando no aquecimento físico, a troca de energia com o outro, preenchendo o espaço vazio, a concentração e estimulo da respiração pude descer as escadas do Espaço Rampa de Criação em estado de cena e sentir o caminho da atriz em busca de uma personagem que a tocasse. Eu em busca de alguém em Copacabana que de um jeito ininteligível atingisse meu coração. Caminhando por ali à noite, petrifiquei com a concentração de uma manicure. Observando sua postura, seus olhos e gestos, me chamou a atenção. Eu sinto que já tinha alguma natureza dessa escolha em mim, na minha intuição. Mas foi apenas uma observação. Inclusive
observar a posição de prestador de serviço e patrão. Voltei para casa.
No dia seguinte, antes de encontrar com todos, fui caminhar até o salão, mas não o encontrei. Assim, passei a observar os diversos salões, e observar aquelas manicures esperando sua vez na fila para atender, o clima desses ambientes, a relação com as clientes, mas ao mesmo tempo, andando, terminando o quarteirão tinha alguma coisa me fazendo resistir, uma repulsa, não sei.


Parei no sinal para atravessar a rua e no tempo de um suspiro, me deparei com a comunidade do Pavão, Pavãozinho
colorindo meu ângulo de visão. Mudei meu rumo e subi as escadas da comunidade. E a cada passo que dava, descobria um frisson na minha respiração. Ia descendo a ladeira, conhecendo o Museu de favela, com pintura de imagem de santa na parede, vendo a vida das moradoras dali, observando uma mãe subindo os degraus
com suas filhas, uma no colo e no outro, sacolas de supermercado. Dificuldade e fé, e num suspiro o esboçar “Sou filha de Deus!” Percebi a umidade das paredes mofadas, a humildade dos pés descalços sem frio já tão acostumados. Cada olhar de curiosidade sobre a minha pessoa que estava ali, que não se adequava aos demais.
Voltei, o mestre me encaminhou, me deu uma direção e com isso pude anotar e organizar todas as informações e
assim, pertencer aquele lugar que de direito me tocou.
Fiquei esperando na fila da Kombi para subir a comunidade, e como demorava tanto, ali seria um ótimo lugar para
eu observar os perfis daquelas mulheres, mas eu queria mais. Não queria perfis, eu a queria! E já um poço de curiosidade e querendo me dominar de emoção, perguntei por onde passava para outra senhora, e ela me perguntou onde eu queria ir, e veio na minha cabeça “ salão, claro, o salão, vou fazer minha unha... ótimo!” Seria uma ótima desculpa. E ela respondeu, “ah é no salão? Ta bom, você salta lá, eu te digo...” e fui eu com a sensação de perfeição, estar no lugar certo na hora certa. La realmente tinha um ponto da Kombi que era no
salão! Mas quando cheguei ao ponto do salão, o mesmo já tinha virado loja de roupas!!! E agora?  Não é mais salão?
Elas perceberam a minha frustração e perguntaram se eu queria fazer a unha, e enfim uma delas que estava ao meu lado me indicou um salãozinho, dentro de um bequinho... E la fui eu... Fui levada até minha personagem, me arrepio ao lembrar.
Encontrei a manicure em seu momento de trabalho. Fazendo as unhas dos pés de outra moradora. Eu perguntei
se podia fazer minhas unhas, e claro, fiquei esperando e observando a Jéssica! Pedi pra fazer igualzinho! E não é que ela se parecia comigo fisicamente! Tinha cabelos castanhos, e pele clara, magrinha.  Me encantou. “A Jéssica arrasa!”
Observei-a fazendo minhas unhas, seu capricho, observei sua família chegando, o dia escurecendo, ouvindo suas histórias, seus assuntos, o valor da sua simplicidade, às vezes até dando uma opinião qualquer sobre a televisão, ou qualquer outra coisa, para eles se sentirem bem à vontade. Depois de tudo desci, repleta de inspiração!
Não parei por aí, continuei a observar, no dia seguinte, passei pelo salão da Jéssica, dessa vez ela fazia algo no
cabelo de alguma cliente, comi um queijo quente no barzinho, sentei em frente a um grafite na parede e lá estava bem bonito, colorido o nome de minha personagem. Ajudei outra mulher, com seu bebê a subir com as compras, observei
sua casinha, seus filhos e cachorro.  Mas aí  já tinha adotado muito de suas características, e pouco me abri, mas não gerava mais olhares suspeitos, eu já poderia fazer parte daquilo. É incrível observar essa mudança agora, os
moradores me percebiam passando, mas eu já poderia pertencer àquele lugar.



E daí se deu a criação, e o mestre indicou a passar de observador e enfim escrever em primeira pessoa do
singular:
"Deus todo poderoso é quem me guia e Maria da Penha, minha mãe é quem me protege. Há anos cheguei nessa cidade do Rio de Janeiro, fiquei na comunidade do pavão pavãozinho. Senti uma estranheza
muito grande quando cheguei, perguntam de onde eu venho, nunca respondo. Meu amor, o “Nem”, conseguiu alugar nosso canto, a gente vai casar. Ele tem um bar, mas eu nunca bebo. Economizo. A vizinhança é tranqüila, as mulheres são guerreiras, carregam seus filhos. Há um ano e meio fui bem recebida por essa família. O mundo gira la
fora, lá por Copacabana, no palácio das princesas, mas eu vivo aqui na minha comunidade. Se tivesse sol, eu ia a pé dar um mergulho no mar! Olha que onda! Eu tenho umas clientes, e vou à casa delas fazer minha arte, cada apartamento grande e a gente vive todo mundo tão apertadinho. O teto é baixo, é la em cima, não
pode ficar com medo de descer, porque o pessoal às vezes tem medo por causa do tráfico. A bandidagem acabou, mas a droga continua. A gente dorme todo mundo junto no mesmo quartinho.
Eu vou fazer minha faculdade, mas só quero fazer a minha família, ter meus filhos e ser feliz. Eu fico me acordando de tanto frio que esta.
Se eu penso em me mudar? Ir morar na pista? Bem que eu queria, aqui não dá nem pra colocar um sapato claro, é
muita lama e cocô de cachorro! Toda hora eu piso na merda!  No dia do casamento eu nem sei como é que vai ser.
Vai ser tudo muito simples, a minha família vem de Juiz de fora.
Nycolle"
“A fé colore as penas do pavão,
do pavãozinho”
Até na hora de escrever, eu vi o desenho da minha letra se modificar. Ouvi algumas músicas que inspiravam
sentimentos e me levavam a estágios insanos de lucidez com imaginação e ilusão. Ajudavam a colorir e desenvolver uma memória que estava sendo criada e vivenciada.

Deus todo poderoso - Baia
Maria da Penha - Baia
Ive Brussel - Jorge Bem
Fico assim sem você - Claudinho e Bochecha
A francesa - Marina Lima

Dentre outras que trilhavam meu caminho, inclusive as que outros atores apresentavam, me despertavam sensações
singelas.

Depois disso, tivemos uns encontros filmados, permanecemos entregues ao personagem por horas, até a
câmera vir capturar momentos de pequenas trocas, de suspensão entre um e o outro.  Eu tive o caminho muito
ilustrado, pude me abrir e viver aquilo, não desistia, persistia. Me movimentava e respirava, e as situações foram acontecendo, como descer as escadarias, chegar à frente do guichê do metrô e realmente não achar o dinheiro suficiente no bolso, voltar, descobrir uma solução pro acaso e poder já levar uma situação quando estava frente a frente com minha parceira. Disponível a “outrar” preenchida de verdade e fé cênica. E isso também na nossa festa, que aos poucos as situações iam surgindo de tão imersos que estávamos nas condições humanas que ali estávamos vivenciando.
Essa noturna foi realmente incrível.

 Enfim todos juntos, livres, podendo trocar, reagindo sutilmente. O
meio promovia e as personagens viviam.
Engrandecida com a experiência ao lado de todos vocês. Muito agradecida.


Vai, coloca uma roupinha e vai para beira do riacho esperar o rapto...